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Controle de produção 4.0 implantado em maquinário eleva em 40% a produtividade da Tecnoblu, de Blumenau, e dá suporte ao seu processo de “customização em massa”.
A fama de empresa inovadora acompanha a Tecnoblu quase desde sua fundação, em 1994. Especializada na produção de etiquetas, tags, botões e outros acessórios para customização de peças de vestuário, a companhia blumenauense tem um complexo processo de produção, que hoje abarca cerca de 4 mil projetos diferentes a cada mês. Para se manter eficiente e cada vez mais competitiva, investe anualmente R$ 5 milhões na modernização de equipamentos e processos e outros R$ 2 milhões em pesquisa e desenvolvimento. Mas foi com um aporte bem mais modesto, de cerca de R$ 300 mil, que a Tecnoblu oficializou em 2019, com o projeto Tecnoblu Indústria 4.0, o primeiro passo da marca rumo ao mais avançado estágio da indústria, marcado pela evolução do uso de computadores e máquinas agora conectados por sistemas de inteligência artificial, computação em nuvem e análise de big data.
São termos um tanto quanto exóticos no mundo da moda, onde a Tecnoblu se notabilizou pela competência com que acompanha e até mesmo dita tendências e conceitos. A empresa conta com escritórios de pesquisa de mercado e design em Xangai, na China, e também em Portugal, onde desde o começo de 2019 conta com um showroom na cidade de Guimarães, a Casa Europa – porta de entrada para o mercado europeu. A conexão permanente com as últimas tendências internacionais não poderia deixar de permear os processos produtivos da companhia.
Liderado por um jovem colaborador que entrou na empresa aos 15 anos como menor aprendiz, o projeto 4.0 começou a ser implementado em 21 equipamentos da unidade fabril de Blumenau. Agora com 24 anos e recém-formado em Engenharia de Produção, Christian Viana trabalha na fase 2, onde mais nove máquinas serão chipadas e conectadas via wi-fi a uma nuvem de dados e a um software desenvolvido pela HarboR, empresa especializada em sistemas de controle digital de produção.
Com a tecnologia, as ações para resolver problemas e aumentar a eficiência no dia a dia da empresa se tornaram mais rápidas e incisivas. As máquinas enviam informações para o software, apontando defeitos ou falhas e otimizando a resposta dos gestores, que possuem acesso em tempo real na tela do computador ou no celular ao que ocorre em cada equipamento. Com isso, a empresa pôde abdicar da presença de supervisores. Os próprios operadores, conectados à nuvem, mantêm cada etapa da linha de produção atualizada.
Foto: A plataforma livemes sendo utilizada na fabrica da Tecnoblu
Poucos meses depois do início do projeto, a produtividade aumentou 40%, segundo o diretor industrial Sérgio Luis Pires. Os resultados da fábrica se refletiram no balanço: em um ano considerado ruim, a empresa cresceu 6% – para 2020, a meta está na casa dos 16%.
“Com as ferramentas ‘normais’ de gestão, já considerávamos nossos processos muito eficientes. Mas perdíamos muito tempo investigando os fatores que diminuíam a produtividade. Com as ferramentas 4.0, ganhamos velocidade e previsibilidade em relação ao que está acontecendo na companhia como um todo”, afirma Pires. O ganho obtido ajuda a pagar as próximas fases de implantação das novas tecnologias, em uma estratégia conhecida como quick win. Pires espera que, em até três anos, 100% da fábrica esteja conectada à nuvem.
Antes ainda desse novo projeto, a Tecnoblu apresentava em seus processos algumas das principais características da quarta revolução industrial. A customização em massa, com a produção de pequenos lotes personalizados em uma mesma linha de produção, já era um diferencial da empresa. O sistema Total ID, criado em 2018, permite que um fabricante de roupas, pequeno, médio ou grande, receba em um único pacote toda a aviamentação necessária para a decoração de uma peça, com toda a coordenação – o que é muito importante – de cores e quantidades. “Isso representa um ganho logístico absurdo em mercados extremamente competitivos no Brasil, como é o caso do jeans”, explica Pires.
A introdução de ferramentas 4.0 ajudou a alavancar a produção de peças através do Total ID. Com base em informações coletadas, cada aviamento, cada ferramenta e as tintas necessárias para produzir as peças de cada projeto são checadas em tempo real, evitando interrupções desnecessárias na linha de produção. Em menos de dois anos, o sistema já representa 50% das vendas da empresa.
Controles
A Indústria 4.0 já estava no DNA da Tecnoblu.
Conhecemos o processo produtivo e o modelo de negócios da empresa e percebemos que eles poderiam avançar ainda mais rápido com um controle de produção em nuvem, que desse clareza e visibilidade para os processos. Eles praticamente zeraram os atrasos de pedidos e estão elevando a produtividade sem aumentar os custos operacionais”, diz Tulio Duarte Christofoletti, CEO da HarboR, de Florianópolis, empresa que forneceu o software para o projeto 4.0 da companhia.
Ao mesmo tempo, a companhia também percebeu a necessidade de melhorar o controle dos fretes dos produtos para os clientes. “De que adianta ter a indústria 4.0 na empresa se, na hora de entregar, não temos os mesmos controles? O cliente quer receber na data combinada, não quer saber como. Nossos pedidos chegavam à expedição no prazo correto mas, a partir do momento que ia para a transportadora, a entrega muitas vezes atrasava”, revela Pires.
A solução foi encontrar um sistema que fizesse um controle, em tempo real, de cada carga – da doca de saída da fábrica até a doca de entrada do cliente. Em uma parceria com a empresa blumenauense Lincros, foi desenvolvido o sistema Door to Door da Tecnoblu, que levou a empresa a entregar seus produtos no dia correto em 96% dos casos. O sistema se conecta ao faturamento da empresa, e na emissão da nota fiscal já indica qual a melhor opção de frete, com tabela atualizada de preços.
O próximo objetivo é desenvolver um sistema 4.0 para a área comercial, com a virtualização de peças e coleções e a conexão direta de vendedores. “O sonho é que um dia um cliente feche um pedido e, imediatamente, meus fornecedores já saibam quais materiais eu vou pedir, diminuindo ainda mais o tempo de resposta. Quem não seguir esse caminho vai ficar fora do mercado”, sentencia Pires.
Outra convicção do empresário é que, sem parcerias, é impossível ingressar na manufatura avançada, e a troca de informações é essencial para o fortalecimento da cadeia produtiva – por isso a Tecnoblu se mantém aberta a outros empresários que desejem conhecer seus processos. A Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), com sede em Florianópolis, abriu um espaço para intercâmbio em sua chamada Vertical Manufatura.
“As empresas podem obter aconselhamento, testar tecnologias e discutir como elas podem fazer a transformação digital”, afirma Christofoletti, da HarboR, que também dirige a Vertical Manufatura.
Texto e Fotos por Leo Laps
Retirado de: https://fiesc.com.br/pt-br/imprensa/poderosas-maquinas-da-moda[:]